Soneto

Soneto

Encontrei-te. Era o mês... Que importa o mês? Agosto,
Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou março,
Brilhasse o luar que importa? ou fosse o sol já posto,
No teu olhar todo o meu sonho andava esparso.
Que saudades de amor na aurora do teu rosto!
Que horizonte de fé, no olhar tranqüilo e garço!
Nunca mais me lembrei se era no mês de agosto,
Setembro, outubro, abril, maio, janeiro, ou março.
Encontrei-te. Depois... depois tudo se some
Desfaz-se o teu olhar em nuvens de ouro e poeira.
Era o dia... Que importa o dia, um simples nome?
Ou sábado sem luz, domingo sem conforto,
Segunda, terça ou quarta, ou quinta ou sexta-feira,
Brilhasse o sol que importa? ou fosse o luar já morto?


Alphonsus de Guimarães

Natal




Isaias 9,6:
Porque um menino nos nasceu,
um filho se nos deu;
o governo esta sobre os seus ombros;
e o seu nome será:
Maravilhoso Conselheiro,
Deus Forte,
Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz...




Ceifando...


Chegaste
com a tua tesoura de jardineiro
e começaste a cortar:
umas folhas aqui e ali
uns ramos
que não doeram…


Eu estava desprevenida
quando arrancaste a raiz.


Yvette K. Centeno
 
 
triste...

Só o amor...


Só ficará de ti

O que fizeste por amor

O resto não valeu:

Foi apenas poeira

Que se ergueu em teu redor

E o vento varreu



Só ficará de ti

O que escreveste com paixão

O resto não contou:

Foi tão-só uma sombra

Que passou

Pura ilusão

E nem rastro deixou



Torquato da Luz

Tenho mania de gostar do amor...




Não goste do amor

"Goste de alguém que te ame,
Alguém que te espere, 
Alguém que te compreenda mesmo nos momentos de loucura;
De alguém que te ajude, Que te guie,
Que seja seu apoio, Tua esperança, teu tudo.

Não goste do amor ...
Goste de alguém que não te traia, Que seja fiel, que sonhe contigo,
Que só pense em você, Que só pense no teu rosto,
Na tua delicadeza, no teu espírito.
E não no teu corpo, nem em teus bens.

Não goste do amor ...
Goste de alguém que te espere até o final,
De alguém que sofra junto contigo, Que ria junto a ti,
Que enxugue suas lágrimas, Que te abrigues quando necessário,
Que fique feliz com tuas alegrias,
E que te dê forças depois de um fracasso.

Não goste do amor ...
Goste de alguém que volte pra conversar com você depois das brigas,
Depois do desencontro.
De alguém que caminhe junto a ti,
Que seja companheiro, que respeite tuas fantasias, tuas ilusões.
Goste de alguém que te ame.

Não goste apenas do amor.
Goste de alguém que sinta o mesmo sentimento por você".

NÁUFRAGOS



Tornei-me letrado em partir.
Mais ainda em parecer esquecer a quem amei.
Tudo abandonado
ao longo de mares secos,
navegados sob a frieza do meu olhar
a cada partida, a cada adeus,
ditos nas noites e nos dias,
muito desejados e pouco vividos.

Não sei onde aprendi
tamanha destreza em viver
tantos adeus,
fonte inesgotável de tristeza,
companheira de ontem,
timoneira de hoje.

Aprendi tão bem a partir
que, a cada adeus,
deixei a mim mesmo,
em fatias,
cortadas por cada palavra de amor não dita e
coladas em cada rosto amado
com gestos de incompreensão.
Fui quase todo ao mar,
pregado nos amores atirados,
quando ceguei pelo medo nas noites escuras,
quando silenciei nos sustos não gritados.

Assustadora sabedoria
aprendida nesse mar de lágrimas velejado
cujo diário de bordo
registrou a direção de cada partida,
os vários olhares,
além das palavras não ditas
durante o silêncio ensurdecedor
de quem queria ficar,
como se eu fosse o esconderijo seguro dos sonhos maiores,
como se eu fosse o abrigo forte
contra os ventos das perdas vividas.

Com sem socorro involuntário
respondi à dor causada pelas súbitas saídas;
com sorriso singelo e sem graça
escondi a saudade nas inesperadas chegadas.


Sábio esquisito esse que trago em mim:
tantos diplomas recebidos pelos olhares enlagrimados e
fixados na parede do meu destino
como se fossem troféu novo,
ganhos em cada despedida dos amores tidos.

Deixei na rota
olhos repletos de dúvidas nunca esclarecidas,
por quem não soube dar a vida desejada
ou evitar viver a vida não querida.
Naveguei laureado pela ilusão,
mas sempre punido pelo que foi 
ao invés de brindado pelo desejado.

Com tanta sapiência,
ao longo da vida,
muitas vezes velejei no mar de lágrimas,
vindas com a chuva nas noites de solidão de quem amei,
vindas com as tempestades de verão nos dias que chorei.
Nessa viagem não soube qualquer gesto possível
capaz de salvar os náufragos dos adeus vividos e
com eles salvar a esperança de bom fim.

Doce maestria que perdeu a utilidade
ao esquecer a senha de resgate dos meus náufragos,
escrita na eternidade dos sonhos,
para que juntos pudéssemos ter alcançado
a terra firme do amor
verdadeiramente amado,
verdadeiramente vivido.

José Saraiva



Como se nunca tivesse sido amor...

Desejo

poema da noite

Desejo - Casimiro de Abreu

Se eu soubesse que no mundo
Existia um coração,
Que só' por mim palpitasse
De amor em terna expansão;
Do peito calara as mágoas,
Bem feliz eu era então!

Se essa mulher fosse linda
Como os anjos lindos são,
Se tivesse quarenta anos,
Se ainda fosse rosa em botão,
Se inda brincasse inocente
Descuidosa no gazão;

Se tivesse a tez morena,
Os olhos com expressão,
Negros, negros, que matassem,
Que morressem de paixão,
Impondo sempre tiranos
Um jugo de sedução;

Se as tranças fossem escuras,
Lá castanhas é que não,
E que caíssem formosas
Ao sopro da viração,
Sobre uns ombros torneados,
Em amável confusão;

Se a fronte pura e serena
Brilhasse d'inspiração,
Se o tronco fosse flexível
Como a rama do chorão,
Se tivesse os lábios rubros,
Pé pequeno e linda mão;

Se a voz fosse harmoniosa
Como d'harpa a vibração,
Suave como a da rola
Que geme na solidão,
Apaixonada e sentida
Como do bardo a canção;

E se o peito lhe ondulasse
Em suave ondulação,
Ocultando em brancas vestes
Na mais branda comoção
Tesouros de seios virgens,
Dois pomos de tentação;

E se essa mulher formosa
Que me aparece em visão,
Possuísse uma alma ardente,
Fosse de amor um vulcão;
Por ela tudo daria...
— A vida, o céu, a razão!

Casimiro José Marques de Abreu, ou Casimiro de Abreu, ( Barra de São João, Rio de Janeiro 4 de janeiro de 1839 - Nova Friburgo, Rio de Janeiro 18 de outubro de 1860) - Foi um dos poetas mais populares do Romantismo Brasileiro. Colaborou com as revistas O Espelho, Revista Popular, A Marmota e com o Jornal do Correio Mercantil. Foi escolhido por Teixeira de Melo para patrono da cadeira nº 6 da Academia Brasileira de Letras no momento de sua fundação.