Pense-se, por exemplo, na relação que existe entre o bebedor e o vinho.
Não é verdade que o vinho oferece sempre ao bebedor a mesma satisfação tóxica,
que a poesia tem comparado com frequência à satisfação erótica
— comparação, de resto, aceitável do ponto de vista científico?
Já alguma vez se ouviu dizer
que o bebedor fosse obrigado a mudar sem descanso de bebida
porque se cansaria rapidamente de uma bebida que permanecesse a mesma?
Pelo contrário, a habituação estreita cada vez mais o laço entre o homem e a espécie de vinho que ele bebe. Existirá no bebedor uma necessidade de partir para um país
onde o vinho seja mais caro ou o seu consumo proibido,
a fim de estimular por meio de semelhantes obstáculos a sua satisfação decrescente?
De modo nenhum.
Basta escutarmos o que dizem os nossos grandes alcoólicos,
como Bócklin, da sua relação com o vinho:
evocam a harmonia mais pura e como que um modelo de casamento feliz.
Porque é que a relação do amante com o seu objecto sexual será tão diferente?
Sigmund Freud, in 'Contribuições à Psicologia da Vida Amorosa (1912)'
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